domingo, 1 de agosto de 2010

"E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim." Mt 10:38


          A cruz não é desventura nem pesado destino; é o sofrimento que resulta da união exclusiva com Cristo. A cruz não é sofrimento casual, mas sofrimento necessário. A cruz não é sofrimento relacionamento com a existência natural, mas com o fato de pertencermos a Cristo. A cruz não é, essencialmente, apenas sofrimento, mas sim sofrimento e rejeição - rejeição no sentido rigoroso, rejeição por amor de Jesus Cristo, e não em consequência de qualquer outra atitude ou confissão. Um cristianismo que não venha mais tomando o discipulado a sério, que transformara o Evangelho em consolo da graça barata e para o qual a existência natural e a existência cristã estavam inseparavelmente misturadas, tal cristianismo tinha que considerar a cruz uma desventura diária, uma tribulação e angustia de nossa vida natural. Esqueceu-se que a cruz significa sempre também rejeição, que o opróbrio do sofrimento é inerente à cruz. Ser rejeitado no sofrimento, desprezado e abandonado pelos seres humanos, como se lamenta tanto o Salmista, eis a característica essencial do sofrimento da cruz que já não é compreensível a uma cristandade incapaz de distinguir entre existência cristã. A cruz é a compaixão com Cristo, sofrer com Cristo. Somente a união com Cristo, tal como esta se verifica no discipulado, está, de fato, sob a cruz.
          "...tome a sua cruz." Ela já está preparada desde o início; falta apenas levá-la. Porém, para que ninguém pense que tem que sair a procura de uma cruz qualquer, seja onde for, ou que deve procurar voluntariamente o sofrimento, Jesus diz que existe uma cruz já preparada para cada um de nós, uma cruz a nós destinada e atribuída por Deus. Cada qual tem que suportar a medida de sofrimento e rejeição que lhe é reservada. Essa medida varia de pessoa para pessoa, pois a um Deus honra com maior sofrimento, dando-lhe, inclusive, a graça do martírio; a outro, porém, não permite que seja tentado além de suas forças. No entanto, a cruz é uma só.
          Não somos maiores que nosso Mestre. O sofrimento da cruz foi a Ele conferido. Por que não seria também a nós?
                        
                                                                                               (Dietrich Bonhoeffer)

Um comentário:

  1. Obediencia simples: Ouvir, obedecer e esperar que Deus faça a sua parte. A obediência simples separa os verdadeiros Filhos dos falsos, os bodes das ovelhas, o trigo do joio. Alguns chamam a obediência simples de fanatismo. Pena. Os que chamam de fanatismo irão para o inferno com sua falta de "fanatismo".

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